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  • Foto do escritorHM Macahé

Episódio 4: O Palácio dos Mendigos.

Atualizado: 26 de abr. de 2021


Ouça o episódio:




O prédio onde hoje abriga o Centro Macaé de Cultura, com o Teatro nos fundos, já foi um lugar abandonado onde viviam muitas pessoas em situação de rua. Não encontramos uma data precisa, mas pelos acontecimentos que vieram a seguir, nos levou a crer que a construção do prédio foi iniciada na virada dos anos 60 para o 70, sendo o empreendimento da iniciativa privada. No projeto, o térreo seria composto de lojas e galerias na parte frontal, e mais atrás o foyer e um cinema, que seria batizado de "Cine Atlântico". E nos andares superiores, os apartamentos seriam vendidos. Mas as obras foram interrompidas por inacreditáveis 20 anos até que, no início dos anos 90, a prefeitura decidiu dar início ao processo de desapropriação e término das obras.


Ao fundo, o Palácio dos Mendigos (à época).

Foto: Dunga.


Foi neste período de interrupção das obras, que praticamente englobou as décadas de 70 e 80, onde muitas famílias em situação de completo abandono ocuparam as dependências do prédio. Mas o que poucos sabem é que, neste meio tempo, ocorreram também ocupações de artistas e ativistas políticos da cidade para chamar a atenção da sociedade e do poder público diante de toda aquela situação dramática de abandono geral. Lembrando que eram tempos difíceis de um regime militar mais endurecido, mas que não intimidou alguns destes bravos macaenses que mostraram que o senso de justiça fala mais alto.


Ulysses tocando um violão antigo e recuperado pertencente ao prof. Dácio Lobo, que está tocando teclado ao lado, mas não aparece na foto. Este evento foi uma outra ocupação do espaço, no início dos anos 80. Foto: Rômulo Campos.


E assim relata Rômulo Campos, fotógrafo, ambientalista e um dos articuladores da primeira ocupação artística nos anos 70, sobre aquele lugarzinho de chão batido que seria um cinema, mas que se transformou, muito tempo depois, em teatro:

"O centro Macaé de Cultura, nós temos que recordar, que ele se chamava Palácio dos Mendigos. Várias famílias, de pessoas passando por privações, abaixo da linha da miséria, habitava o pleno centro de Macaé, no prédio que ficou abandonado durante muitos e muitos anos. O que eu recordo é que isso causava na gente uma indignação muito grande. E nós decidimos, as pessoas ligadas à área de cultura, bastante gente envolvida. Lembro de um empenho muito grande dos César Mendonça, enfim… o pessoal ligado ao Século¹. Nós decidimos ocupar e fazer, ali, um show, uma apresentação, e o grande nome do momento era o Jorge Mautner, que era já um marco de resistência, da gente tentar reverter a situação de transformar o Palácio dos Mendigos num centro de cultura."


Jorge Mautner e seu Violino, no início dos anos 70.


Foi a primeira iniciativa concreta pra gente chamar a atenção pra essa situação. Eu lembro que depois, logo imediatamente, eu e o Lívio², a gente fotografou o local e fizemos uma exposição fotográfica chamada Palácio dos Mendigos, que reforçou, também, a ação anterior do show... O Mautner fez um show maravilhoso! Imagina! Década de 70, com todo o vapor, toda a energia com o violino dele. Foi uma coisa, assim, apoteótica! Apoteótica porque, durante todo o dia, a gente se esforçou pra limpar, tirar o entulho e o lixo, tornar o mínimo utilizável aquele espaço, de maneira que as pessoas não pudessem correr risco. Tinha muita sobra de material de obra, muito lixo, muito material contaminado. A gente tirou, limpou e transformou num local onde nós participamos de um grande show. É mais ou menos isso que eu me lembro… e nessa época eu nem me recordo se cheguei a fotografar ou o Lívio fotografou alguma coisa (no caso, o show). Porque a gente estava muito exausto no sentido dos preparativos para garantir que o show fosse um sucesso como foi. Foi isso que aconteceu."

Notas:


¹ Jornal O Século - jornal macaense que funcionou de 1886 à 1918, renascendo no final dos anos 70 por iniciativa do jornalista Euzébio de Mello, o Zebinho, descendente do fundador do jornal. Mas teve poucas edições publicadas.


² Lívio Campos, irmão de Rômulo e também fotógrafo.

Vale lembrar:


As fotos tiradas do prédio, na época, e usadas para fazer a exposição fotográfica, foram perdidas numa enchente. Infelizmente não conseguimos ilustrar melhor como foi este importante evento que aconteceu em nossa cidade. Só há uma foto, que está no blog, tirada pelo fotógrafo Dunga, onde aparece o prédio ao fundo.

Ainda não encontramos nenhuma edição do jornal O Século que deu cobertura ao movimento artístico de ocupação na época. Assim que encontrarmos, faremos a divulgação no blog.

Agradecimentos:

Agradecimento especial de hoje vai para o Rômulo, com o seu depoimento, e também para Ivana Mussi (coreógrafa, bailarina e gestora pública) que também contribuiu com alguns detalhes que puderam elucidar melhor essa história. À todos vocês, nossa gratidão!!

Fundo musical:


Nosso fundo musical de hoje, todos já sabem, não é mesmo? Maracatu Atômico. Exatamente! Aqui ela aparece em duas versões. A primeira, versão original, composta por Jorge Mautner e Nelson Jacobina, em 1974, e faz parte do álbum homônimo, Jorge Mautner. Outra curiosidade é que, no mesmo ano, Gilberto Gil lança uma regravação dela em seu disco "Cidade do Salvador". E vejam só! Foi também nessa mesma época onde foi feita a primeira ocupação do Palácio dos Mendigos.


Logo após, temos a versão gravada pelos expoentes do manguebeat, Chico Science e Nação Zumbi, que lançaram a música em 1996 no álbum "Afrociberdelia".

Fonte:


Wikipedia. Maracatu Atômico. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Maracatu_At%C3%B4mico Acessado em: 31 jan. 2021

Considerações finais:


E por hoje é só, meus amigos. Voltamos no próximo episódio para falar de uma figura muito importante, que viveu aqui, durante os anos 60 e 70. É, Isso mesmo! E foi um professor de Violão que muito contribuiu para nossa cidade, e formou vários músicos conhecidos, que também fizeram muita história e continuam fazendo, e com um currículo de dar inveja.


Quer saber quem foi esse professor? Ah, mas aí vocês vão ter que esperar. Mas eu garanto uma coisa: vocês não vão se arrepender de saber quem foi. Combinado assim? Então tá bom. Nos veremos no próximo episódio de histórias da música em Macaé, sempre com um conteúdo importante e relevante para a memória da musica de nosso município.


Um Grande Abraço à todos!!!



FIM.


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