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  • Foto do escritorHM Macahé

Episódio 16 - Ruzilande da Silva Pereira, o Neném.



OUÇA O EPISÓDIO:

Entrevista realizada em janeiro de 2021.


Ele é nascido e criado no bairro Visconde de Araújo, próximo à praça do Rodo. Oriundo de uma família de músicos, foi muito influenciado por sua avó paterna e seu pai Floro, violonista. Ainda criança, nos finais de semana, ele e seus irmãos corriam em direção à praça ao perceberem que tinha alguma banda tocando por perto. Era ali que ficava o Clube do Rodo. E foi assim que sua vontade de tocar aumentou ainda mais.


Ruzilande da Silva Pereira, o Neném, tem vários irmãos e praticamente todos são músicos. Destacamos aqui o 'Neguinho', violão 8 cordas, 'Mazinho', tecladista e Ruzilei, baterista. São essas e outras histórias que vamos descobrir agora, através desse bate-papo. E é por isso que eu chamo, aqui, o Neném, já lançando minha primeira pergunta: como foi o seu envolvimento com a música? Conta mais pra gente...


Neném: Bom dia, Magno. Vamos tentar lembrar alguma coisa do início da vida musical. Eu tinha, mais ou menos, 9, 10 anos, por aí. E lá no Visconde (bairro), no Rodo (praça) tinha um clube, o Clube do Rodo. E quando papai esquecia o violão em casa, quando não levava o violão pros botecos pra tocar, a gente ia assistir o pessoal que ia tocar no Rodo. Como a gente não podia entrar, porque era menor, tinha um beco ao lado do clube. A gente entrava nesse beco, se pendurava na janela, olhava o pessoal tocando, se interessava por alguma música e corria em casa pra tirar as músicas. Todo final de semana a gente fazia isso, quando tinha chance. E foi assim que a gente começou a desenvolver alguma coisa. Lá com 14 anos, mais ou menos, a gente vivia tocando por ali no Rodo, na praça e tal. Daí, Milne Pererê fez um convite pra gente participar de uma banda, que era lá em Casimiro. Daí fomos pra lá ensaiar. (A gente) pegava o ônibus durante o dia, ía para lá e ensaiava até onze e pouca da noite, depois pegávamos o trem de volta pra cá.


Formação da banda 'Os Apaches', na época quando ensaiavam em Casimiro de Abreu: Gilberto, bateria; Paulinho, guitarra; Neném, com uma guitarra "tremendinha" adaptada para contra-baixo elétrico; Sax alto (?); Natalício, cantor (atrás do saxofonista); Guitarra (?)

Ano: 1967/68.


E assim foi. Ensaiamos algumas vezes e aí surgiu a banda ‘Os Apaches’. Essa banda começou, mais ou menos, em 67, 68. A gente só tinha um cubo Phelpa. E pra gente tocar em Casimiro, a gente pegava o amplificador do serviço de auto-falante que tinha no centro de Casimiro, que é em cima do banco do Brasil, na praça. A gente pegava o aparelho deles emprestado, pra juntar com o Phelpa e fazer os bailes em Casimiro de Abreu, na época. Época boa!! Depois trouxemos a banda pra cá, em Macaé, e mudamos o nome para ‘Os Lunares’. E assim começamos a nossa trajetória musical.


Magno: Seu histórico familiar é de muitos músicos. Nos conte um pouco dessa trajetória artística de sua família.


Neném: Minha avó, dona Gertrudes, ela tocava na Igreja o Harmônico - eu nem lembro o nome do instrumento que ela tocava - e daí surgiu dela ver pra papai e papai passou pra gente. Esse foi o esquema musical que Deus me deu.


Magno: e como era o cenário musical brasileiro na época que você começou e como isso te influenciou?


Neném: Na época tinha uma influência muito grande da música internacional. Tinham músicas lindas: Michael Jackson e Jackson 5, e também músicas nacionais como Roberto Carlos, fazia muito sucesso. Tim Maia, Pholhas, que é banda nacional também, fazia muito sucesso… mas influência maior era música internacional. E aquilo a gente foi desenvolvendo, gostando muito do esquema e aí entramos nessa jogada. Na época era isso.


Magno: Qual ou quais são os instrumentos que você toca? Você canta também, não é verdade?


Neném: Eu gostei muito do contra-baixo. Sempre achei o contra-baixo lindo. Mas aí tinha que desenvolver o violão primeiro, um pouquinho pelo menos pra poder ter uma base de (contra)baixo. E assim foi feito… Baixo é um dos instrumentos mais gostosos pra tocar numa banda. Cantar, eu tento fazer alguma coisa, né. Hoje a gente usa a guitarra pra poder fazer os trabalhinhos por aí nas noitadas. A gente tenta fazer um barulhinho, com esse dom que Deus me deu.


Magno: Quais bandas você já tocou e quais os momentos foram mais marcantes pra você? Que época foi isso?


Neném: Pois é, eu toquei em várias bandas, na época. Depois dos Lunares existiu o The Locks. E o The Locks acabou e o Vaval, que era o cabeça da banda, convidou Os Lunares pra se juntar e daí fomos montar a The Locks 2. E foi muito gostosa a época. Além do The Locks eu toquei no L-Bossa, Starshine, Distúrbio Magnético e por aí foi… esquecendo de falar sobre 'Los Angeles' também. Foi uma banda que marcou muito… na época a cantora era a Tereza, que era um espetáculo também. É um espetáculo (corrigindo). Agora, aconteceram muitas coisas, né. Muitas aventuras, brincadeiras. Acontecia sempre e acontece hoje, em qualquer lugar. Mas são boas lembranças!


Conjunto 'The Lockes' em sua segunda fase, resultado da fusão com ex-integrantes do conjunto 'Lunares'. Esq./dir.: Milne Pererê, Mazinho, Bacalhau, Vaval, Ruzilei, Renildo e Neném.

(Início dos anos 70. Local da foto: Rua da Praia)


Magno: Você tem discos gravados?


Neném: Rapaz, não temos não. Não gravamos. Na época só The Rells que gravou, mas as outras bandas, não. Aliás, L-Bossa acho que gravou, uma época. Mas não era no meu tempo, não. Foi outro grupo que gravou.


Apesar de não ter gravado disco autoral, foi no ano 2000 que Neném, junto ao seu pai Floro e seu filho Roni, num encontro de 3 gerações, decidiram entrar em estúdio para gravarem algumas pérolas da música popular brasileira. Foi lá, no Estúdio 194, do amigo e músico Leib Moraes, e com participação dele próprio tocando contra-baixo elétrico, onde foi feito este importante registro em CD. Mais do que um valor comercial, este registro carrega outros valores importantes. Seu Floro, um grande incentivador dos filhos, já com seus 77 anos, naquele momento sentindo o peso da idade, encontrou forças para realizar esta última gravação, vindo a falecer poucos meses depois.


CD 'Neném e sua Guitarra - Nossas Vidas', gravado no Estúdio 190, em 2000. Num encontro de 3 gerações, pai e filho de Neném deixam importante registro para a família, igualmente importante para a história de Macaé.



Magno: Já tem bastante tempo que você segue carreira solo como free-lancer. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar dessa maneira? A pandemia também prejudicou muito, não foi?


Neném: É verdade. Já estou há algum tempo nessa luta, né. Essa luta gostosa que é tocar. Realmente a pandemia parou tudo. Já tem 1 ano que a gente está parado, não tem nada. Mas a gente vai levando da melhor maneira possível, com certeza. Agora, a vantagem e desvantagem de trabalhar sozinho… o gostoso é uma banda, claro. Mas eu optei por isso porque passou a ser mais fácil trabalhar sozinho, porque banda estava difícil trabalhar. E sozinho você sabe que tem aquele compromisso, sabe certinho. Não tem problema como tinha em banda por exemplo, em atraso de um, marcava ensaio ninguém ia ou alguns faltavam… aquelas coisas de sempre que acontece em banda. E trabalhando sozinho não tem esse problema.


Magno: Conta pra gente que apelido é esse: "Neném".


Neném: Rapaz (risos), segundo minha mãe Maria do Carmo, eu perguntei isso a ela, de curiosidade. Ela me disse que eu era muito doente, muito ruinzinho pra comer. Daí veio esse mimo, esse apelido e tal. Por eu ser muito doente e ter muita dificuldade pra comer, aí o mimo de mãe: “toma, neném! Aí pegou o apelido de Neném.


Floro, violonista e grande incentivador dos filhos.



Magno: Então, eu gostaria que você desse suas considerações finais para o nosso público...


Neném: Eu queria agradecer por esse trabalho bonito de vocês. Estamos aí. O que eu puder ajudar, participar, eu estou a dispor. Tá bom? Vamos tocar em frente. Abraço, meu jovem!



FUNDO MUSICAL:


  • My Mistake, música de álbum homônimo da banda brasileira Pholhas, gravada em 1972;

  • Feelings, canção de Morris Albert e Louis Gaste, lançada em 1974. Nesta gravação que ouvimos no podcast de hoje, coube ao Neném fazer a bela interpretação desta música numa gravação caseira;

  • Diz que fui por aí, composição de Zé Keti e Hortênsio Rocha, de 1964. Interpretada aqui por Floro, pai de Neném, na gravação do CD 'Nossas Vidas', em 2000;

  • Sozinho, música e letra de Peninha, composta em 1997 e gravada por vários outros artistas como Caetano e Tim Maia. Interpretada aqui por Neném em seu CD 'Nossas Vidas';

  • ABC, música do segundo álbum de estúdio do grupo The Jackson 5, lançado em maio de 1970.


CONSIDERAÇÕES FINAIS:


E por hoje é só, meus amigos. Gostaram de conhecer mais uma história interessante de nossa música? É, pode acreditar!! Ainda tem muita coisa legal pela frente. E não é fake não! É a mais pura verdade. Aqui nos baseamos em muitas pesquisas e o melhor e mais importante: os relatos orais. São eles que dão veracidade aos fatos e nos trazem toda a confiança de que precisamos ter. Então é isso. Vamos ficando por aqui e até o próximo episódio de Histórias da Música em Macahé, Um grande abraço!!



FIM.

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